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O que está em jogo? – Texto de Fernanda Lopes para Claudia Hersz

Postado em: 17 setembro , 2014
O que está em jogo?
Alice estava cansada de ficar sentada na beira do lago, com a irmã, sem nada para fazer. Foi quando de repente um coelho branco passou correndo por ela. “Oh meu Deus! Vou me atrasar!”, dizia o animal enquanto consultava o relógio de bolso do seu colete. Curiosa, Alice correu pelo campo atrás do coelho a tempo de vê-lo pular para dentro de uma toca embaixo de uma cerca. Um segundo depois, pulou atrás dele, sem nem pensar como sairia de lá. E nem onde é “lá”. “O País das Maravilhas nasceu assim, inventado”, avisa Lewis Carroll logo na primeira página do livro, lembrando a origem da história, feita por ele de improviso para entreter três irmãs durante um passeio de barco no rio Tâmisa em julho de 1862. Considerado um clássico literário do gênero nonsense, “Alice no País das Maravilhas” nos leva a um lugar que não obedece aos padrões de mundo que conhecemos, regido pela lógica do absurdo.

Ao passar pelo arco dourado, Cosmopolita, de Claudia Hersz, também parece nos transportar do espaço da Galeria Ibeu, no coração de um dos bairros mais conhecidos do mundo, para outro mundo. Ou melhor, parece nos fazer pensar por alguns instantes “E se as coisas como conhecemos funcionassem a partir de outra lógica?”. “Tudo em Lewis Carroll começa por um combate horrível”, aponta Gilles Deleuze em texto sobre o escritor inglês. Em Claudia Hersz também. Um embate que tem como ponto de partida a ideia de que o mundo como conhecemos é um mundo construído, a partir de nomeações e convenções que a maioria de nós aceita, e por isso, só por isso, ele funciona. Mas a partir do momento em que percebemos que essas são convenções, criadas, abrimos a possibilidade, mesmo que teórica, de construir outros mundos possíveis a partir de outros modos de operação.1 
   
Cosmopolita é aquele que cruza fronteiras, que não se fixa em uma identidade (no caso nacional) específica. É aquele que parece saber que os mapas desenhados como conhecemos são, antes de tudo, desenhos de fato, linhas arbitrárias que constroem espaços no papel e que se alteraram ao longo da nossa história. História, aliás, que é outra certeza colocada à prova por Hersz em suas apropriações de Hokusai e Jean-Baptiste Debret, e também na coleção particular da artista com obras de arte notórias – que apresentadas em miniaturas, alteram pontos de referências fundamentais para a arte: cor, forma e escala. História que é resultado de constantes e sucessivos embates, e que tem seu curso alterado a partir de quem sai vencedor em cada um deles. História como um jogo, como a série de jogos de tabuleiro que a artista apresenta, com confrontos e peças aparentemente os mais improváveis. O que está em jogo aqui? Quais as regras do jogo? Fazer essas perguntas é um bom começo.

Fernanda Lopes
Agosto de 2014

__________________________

1  Não por acaso Carrol escreve “Alice no País das Maravilhas” um ano antes do Salão dos Recusados, um dos marcos na história da arte de questionamento das normas e convenções do que se entendia e como se fazia arte até então.

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