MAR (V. I.) (~). I – O mar é incansável.
II – Uma extensão líquida onde a vida e o tempo são remoídos na matéria aquosa.
III – Espaço líquido, extenso e ancestral, ele é o berço da água e tudo o que é líquido. Molde para os ovos, as placentas, as poças d’água, as tempestades, os poços, os rios e próprio olho lacrimoso. Do mar nos vem tudo aquilo que tece membranas aquosas.
IV – Os peixes, os corais, as praias, as marés, as sereias, os tritões, os monstros marinhos, os crustáceos, as conchas, as pérolas, os afogamentos, os naufrágios – todas essas imagens abarcam o mar em suas profundezas de sentido. Uma imaginária aquosa que atravessa nossos corpos como dilúvio. O mar é filho da água. Dessa materialidade matriz.
V – E dobrando-se constantemente sobre si mesmo, é misturando e espraiando, concentrando e diluindo, imergindo e emergindo, avançando e recuando, na calmaria ou em tormento, onde nos ensina as propriedades da matéria líquida. O mar torna nosso olhar naufrago da visão. Um olhar-afogado no turbilhão de suas imagens líquidas, nos redemoinhos e ondulações que ele nos coloca.
VI – Mas qual é a imagem do mar? O que vem depois de todas as imaginárias que nascem dele? O que mais podemos ver no turbilhão aquoso?
VII – É preciso atravessar o Dilúvio para ver o mar.
| “Como sobreviver a um naufrágio – Referências e Literaturas”: série dedicada a postagens relacionadas à pesquisa do artista Márcio Diegues, contendo trechos e anexos de sua dissertação “Entre o mar e o vento: o desenho como membrana”, apresentada no PPGAV-EBA-UFRJ em 2017. Todos os textos são de autoria de Márcio Diegues. Este conteúdo também está disponível no
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