2. Entre Dezembro de 1922 e Fevereiro de 1923, Maiakovski escreveu o poema Sobre Isto. Na primeira seção, ele apresenta o isto do título como um enigma. Os primeiros versos auxiliam a decifração. Sobre isto é sobre o quê? A leitura convencional sugere, coerentemente, que o espaço pontilhado deve ser preenchido com amor. A obra seria sobre o amor, uma vez motivada por rompimento amoroso, e a supressão do assunto, a proposição da adivinha, serviria para despistar os que o tomassem por tema exageradamente burguês.
4. Na última e maior carta que Maiakovski envia a Lília Brik, com quem rompera, escreve que “o amor é o coração de tudo”.
6. Paoliello segue o mesmo que Maiakovski. Eles vêem mais do que o desalinho e querem isto. A interpretação que preferimos é que sobre isto não é sobre o amor tão somente, mas, sobretudo, sobre isto. O nome deste tema é: isto! Se uma presença branca, feminina, é absorvida, mesmo completamente, em raízes largas e mal iluminadas, se ela está à vontade em sua maciez e bordas, ora, é isto que está em questão. Aos poucos se encontra conforto naquela assimetria e uma nova é estabelecida, os troncos e as folhas servem de refúgio para o animal que não será engolido, ainda não. É a mesma dinâmica ao se fazer do corpo uma marcação das horas: “com as batidas do coração, com a voz, com a ponta do cabelo”, o sol, o mais tirânico dos astros, até que ele mesmo é a presa de quem o aceita, em sua agressão, e não se dissolve. “O mundo gostaria de patabraçar os peitos-montanhas neste monte de dor […]”. Mas estes submergem dentro d’água e a atmosfera passa a ser deixada, infantil, esperando o esgotamento do fôlego.
8. O uso mais direto da sabedoria adquirida por Maiakovski e Paoliello é o da conservação das grandezas, a observação admirada à impregnação, de tudo o que não pode, ou deve, ser vencido, e o cálculo da posição, até mesmo camuflada, imersa no que acontece. Se ele o faz permitindo, sem vergonha de nada, que o bloco dos maxilares soe trovoadas, donde o inverte, ela o consegue numa delicada aversão a seduzir demais ou de menos, como também se percebe nas colagens que Rodchenko faz para os poemas, em que o casal nunca está junto, é o rosto de Lília, e Maiakovski como alegoria, ou o inverso. O neologismo, em russo, Gren Lap Liub-Landiia, salvo pelas baixas temperaturas da Groelândia e da Lapônia, dizem bem esta série fotográfica: Pata (Lap), Amor (Liub) e Terra (Landiia). São todos elementos de forte assimetria.
Cesar Kiraly
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