É quase impossível se manter indiferente ao ver, ler ou ouvir os fragmentos de histórias que Paula Scamparini apresenta nesta exposição. 3amargem reúne trabalhos realizados entre 2012 e 2015 – todos inéditos na cidade – dando continuidade à pesquisa que a artista vem desenvolvendo, estruturada a partir de investigações acerca da palavra como objeto, espaço, imagem e som. A exposição é um convite da artista para olhar, ler, ouvir. Ou melhor, para olhar a partir de outro ponto de vista, ler de outra maneira, ouvir de novo. Ficção e realidade se misturam propositalmente em fotografias, textos (escritos ou falados), instalação, para nos chamar atenção não para o que está ali dentro e que vemos com absoluta clareza, e sim, para o que está justamente fora, para o que parece invisível ou esquecido. É o espaço que abriga e circunda seus objetos, o mesmo que nos abriga e circunda, que interessa à artista. Mas não aquele que pensamos que já conhecemos e nem aquele que estamos vendo pela primeira vez, e sim aquele que reencontramos, que olhamos de novo para descobrir ali algo que não vimos antes. Aquele que fica entre o que já acreditamos estar totalmente apreendido e aquele com o qual travamos contato pela primeira vez. Aquele que fica na terceira margem, que redescobrimos a cada novo encontro, muitas vezes pelo olhar do outro.
E aí, a grande janela da sala de exposições da Galeria Ibeu se transforma em uma grande tela de cinema. Olhando para fora, vemos dezenas de janelas e dentro de cada uma delas uma história diferente. Sejam aquelas que por ventura assistimos se desenrolar diante dos nossos olhos, sejam aquelas que começamos a construir na nossa cabeça a partir das pistas que percebemos (cor da cortina, detalhes de decoração etc…), ou sejam ainda aquelas que nos invadem o pensamento, como lembranças que encontram o caminho de volta a partir de alguma coisa que vemos ou ouvimos. Olhar para cada uma delas é também como olhar um espelho. Não importa se são a mais fantasiosa ficção ou a mais dura realidade. É quase impossível se manter indiferente. Ou pelo menos deveria ser.
Fernanda Lopes
Fevereiro, 2015