Entre. Preposição. Palavra relacional. Ponte semântica. No espaço agora renovado da galeria o sentido dos trabalhos se transforma: uma obra complementa, confronta, vincula, atribui, modifica o sentido da outra. Significação associada, dependente, colaborativa. Nos interstícios, a obra acontece. Mediação. Ligação. Contaminação!
A exposição é a manifestação pública da obra. Caracteriza um deslocamento, um recorte, um acontecimento. Desse modo, ]entre[ é intervalo; mas intervalo aberto ao mundo. Partindo do local, da instituição, da escolha dos artistas, da definição dos trabalhos, da presença do público, deste texto de catálogo, do debate acerca de tais instâncias, a exposição constitui-se, de fato, não na preponderância de um ou outro desses elementos, mas nas relações existentes entre eles.
Não há tese a defender. ]entre[ é devir. Proposição que se estabelece enquanto processo, a cada momento sendo estruturada e reelaborada. Afeto, negociação, troca, compromisso, confiança. Presença, confronto, cruzamento de poéticas, investigações, processos, questionamentos, intenções; enfim, de tudo o que está e não está contido nesse intervalo. Rizoma. Configuração e reconfiguração constante do jogo de relações possíveis. Duração. Discurso e prática curatorial.
Intermediação. Quais as aproximações possíveis? Que aspectos podem constituir a trama conceitual desse conjunto de trabalhos assim configurados na galeria? Em que esse texto pode ser útil ao espectador? Expectativas. Algumas palavras-chave parecem nortear certas aproximações: Construção. Paisagem. Espaço. Imagem. Memória. Ficção. Intimidade. Matéria. Entre pinturas, esculturas, gravura, desenho, objetos, fotografia, vídeo e intervenções, certos temas de interesse comum ganham materialidade.
Mas o que uniria as esculturas de Ana Holck aos trabalhos de Bruno Miguel? Os dele ao de Rafael Alonso? E Gisele Camargo? E a aproximação entre as pinturas de Maria Lynch e Clarissa Campello? E as pinturas de Bettina Vaz Guimarães frente aos vídeos de Mariana Manhães? O que ocorre com os trabalhos de Bruno Lyra quando confrontados com os de Pedro Sánchez e vice-versa? E em que medida o trabalho de Pedro Varela desloca o sentido dos outros dois?
Reconfiguração. E os trabalhos de Ana Holck, Maria Lynch e Mariana Manhães? De Pedro Sánchez e Pedro Varela? De Gisele Camargo e Bettina Vaz Guimarães? De Bruno Lyra e Bruno Miguel? Haveria algo em comum entre aquelas propostas distantes, tanto quanto as que estão espacialmente aproximadas? Heterogeneidade. Dissenso. Diferença. Quais os limites desse jogo de aproximações e cruzamentos?
Este é um texto em aberto, tanto quanto ]entre[ pretende definir-se pelo devir. Há algo que cabe ao espectador completar. Um oceano de sentido a ser desbravado. Indícios a serem identificados; fissuras a serem reconhecidas; fragmentos deixados à deriva. Não há citações; pelo menos explícitas. Intertextualidade. Texto que se complementa na fala dos artistas, permitindo que cada trabalho seja compreendido também a partir das trajetórias individuais. A curadoria interfere na significação dos trabalhos; o artista confronta o discurso do curador.
Entre! Verbo entrar. Ação. Modo imperativo. Presente. Isso não é uma ordem! É convite à participação. Colaboração. Uma antiga galeria, uma nova configuração, algo em processo. Olhe, sinta, flua, indague. Fique à vontade! ]entre[ é misto de solicitação e sugestão.
Ivair Reinaldim
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