As pinturas da série Primeira leitura (2013-14) comentam certo adestramento do animal humano em seus primeiros anos. Como se, para criar um adulto normal, um ser culturalmente adaptado, fosse necessário carregá-lo de compreensões predefinidas sobre o mundo. Atuando de forma perversa, a educação poda a liberdade infantil, desprovida de preconceitos, com o intento de produzir adultos dispostos a aceitar a sociedade como ela é, evitando a transformação.
Sempre entre se revelar e desaparecer, as imagens desta série atuam como a dúvida que as define. As duas camadas de tinta, uma diluída e outra aplicada diretamente, indiciam esse movimento. A primeira camada, diluída, torna o preto em cinza e indica sombra ou apagamento; a segunda, depositada diretamente do tubo de tinta, é clara e age como uma linha que revela a imagem. A própria maneira de pintar de Marcelo Amorim então indica discursos escondidos em discursos.
Essas construções explicitam um procedimento moralizante transmitido para as gerações mais jovens através não dos preconceitos – habitantes da margem de nossa cultura – mas sim da mais explícita implicação cultural no ocidente, o livro. O artista tenciona as leituras indicadas pelos autores, de quem se apropria de desenhos e as frases que os acompanham, para assim explicitar paradigmas repressores disfarçados como aceitação do outro.
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