A paisagem não está fora; ela nos atravessa e se constitui a partir de nossa experiência: eis como podemos apreender a exposição de Daniela Seixas. É através da linguagem, no sentido estendido e corporificado das palavras, que a artista reúne um conjunto de proposições capaz de fornecer um panorama insólito e fragmentado do mundo: uma atmosfera rarefeita; porém, na eminência de sua condensação. São projetos que se realizam enquanto possibilidades de encontro poético entre aquilo que a artista materializa por meio de objetos, desenhos, vídeos e ações e a disposição subjetiva do espectador para atribuir significados a sua experiência imediata. Encontros que reforçam o momento pelo qual essas vivências podem dar sentido ao existir.
Há alguma fragilidade nessas proposições: são frágeis pelo fato de se constituírem, em sua maior parte, por gestos e associações simples, por aproximações aparentemente ocasionais. Mas ao mesmo tempo evidenciam estar alicerçadas tanto na justeza conceitual/poética da artista, na disponibilidade para com a ação que se propõe a realizar/registrar, quanto na capacidade imaginativa do público, em sua dimensão sensível para com o trabalho de arte. São inclinações que se vinculam no momento em que a obra ‘acontece’, por meio de experiências subjetivas – da artista e do público – suscetíveis de serem compartilhadas. Talvez também resida aí o ponto de contato entre os trabalhos expostos: a necessidade de constituição de um terreno comum, transformando qualquer isolamento inicial em lugar (res)significado.
‘E toda umidade que há no meio’ constitui-se como um breve inventário. Mediante a constatação de que os fenômenos se sucedem, extinguissem-se e repetem-se, enfim, possuem uma duração, é possível elencá-los no que possuem de mais particular. Desse modo, ao referir-se a uma ‘discreta vigília’, Daniela Seixas reforça um estado de atenção, de espera sutil diante deste arranjo, reforçando a importância de certa temporalidade psicológica. Sobressai-se um inventário de gestos que marca a tentativa de apreensão das coisas, como se cada ato de aproximação e de constituição de um olhar compreendesse um momento de qualificação da experiência cotidiana do mundo.
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